Quão surpreendente é a mão da experiência!
Que de esperança em esperança nos renova,
Desde o berço, dos tempos idos da inocência,
Quando tudo é novidade, e novidade nova.
Quantos sonhos vividos na imaginação?
E de tantos em tantos, com tanta vivacidade,
Que sonhamos até com a faceira ilusão,
Seduzindo-nos como nossa suprema verdade.
Que bom quando nos despertamos em tempo,
Em tempo de tudo, tempo de se crer no amor,
Nas singelas ofertas dum eterno momento,
No olhar apaixonado, na sedução duma flor;
Nos doces contos e descontos duns e doutros:
Do que me contavam os velhos melindrosos
E do que me juravam os verdes jovens doutos;
Eu ouvia em silêncio, distante dos invejosos.
Tudo eu fiz e me fiz, e por fim me fizeram:
O tempo, a vida, os amigos e os inimigos.
Sobre esses últimos, não sei no que deram,
Os outros deram em mim, pois estão comigo.
Por vastos mares foi que meu barco navegou,
Ao léu, pra lá e pra cá, pela maré das ruas,
E generosamente, neste porto que aportou,
Posso, enfim, colher rosas com as mãos nuas.
Sou desvendador dos mistérios que me move:
A miséria, a vaidade, o ódio, que ilude.
E arquiteto do belo, do belo que me comove:
A amizade, a inocência, o perdão, a virtude.
Entre os loucos e os sábios é que me encontro,
Na tênue linha entre a sapiência e a loucura,
Onde há mistérios que só em versos conto,
Porque eles expressam melhor a candura.
E comove-me a razão ausente, loucamente,
Na poesia, aonde eu nunca cedo, sem medo,
Pois cabalmente sobeja-me a emoção presente,
E então falo de coisas, e de fatos, e de segredos...
Da Experiência...
Edmar Eleutério